quinta-feira, 21 de abril de 2011

Nota pública de encerramento

  O coletivo Para Além do Estado e do Mercado/PAEM, agrupamento anarquista formado em 2006 na cidade de Dourados/MS, vem por meio desta nota comunicar oficialmente o encerramento de suas atividades. Entendemos que após estes 5 anos de caminhada os principais objetivos que foram traçados encontram-se atingidos. Dezenas de pessoas tiveram formação política, teórica e prática, diretamente construída a partir de suas relações com o PAEM e centenas de outras também foram influenciadas, de forma indireta, por nossas publicações, intervenções e projetos. Trouxemos o Anarquismo ao cenário político do cone sul do Mato Grosso do Sul, semeando-o no seio de movimentos sociais e organizações populares dos quais participamos neste período.
  Longe de representar um abandono da militância esta decisão vem como uma necessidade de reformulação de nosso modelo organizativo, que entendemos já não mais estava dando conta das novas situações concretas decorrentes das lutas, e como um meio pra que novas projeções sejam elaboradas. Agradecemos à tod@s @s companheir@s que estiveram ao nosso lado em tantas batalhas travadas neste ciclo que se encerra.
Saúde e força à tod@s!
Nos encontramos nos campos de batalha!
Viva a Luta Popular!
Viva a ANARQUIA!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Organizações Populares convidam pra evento de 1º de Maio

Movimento Poder Popular/MPP, a Associação dos Docentes em Universidades Federais/ADUF, o núcleo Dourados da Central Sindical e Popular/CSP-CONLUTAS, a Associação das Mulheres Indígenas de Dourados/AMID, o Centro Acadêmico de Geografia Livre/CAGEOL e o Centro Acadêmico de História/CAHISDconvidam todas companheiras e companheiros para participar de nosso evento alusivo ao Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora1 de Maio, que realizar-se-á na sede da ADUF.


Cronograma do evento:

08:30 hs – Abertura;
09:00 hs – Discussão em memória aos 140 anos da Comuna de Paris, pioneira experiência de autogestão e socialismo levada a cabo pela classe trabalhadora;
10:00 hs – Reflexão coletiva sobre as movimentações Fora Artuzi e TODAS as Máfias, pontuando a participação das organizações presentes, análise dos avanços e refluxos populares decorridos a partir destas movimentações;
12:00 hs – Almoço;
13:30 hs – Continuidade dos debates sobre a conjuntura local e fechamento de datas para atividades e lutas em comum, entre os grupos e organizações presentes;
16:00 hs – Encerramento;
18:00 hs – Sarau do 1 de maio

Pedimos que a confirmação da presença seja feita com antecedência, até o dia 29 de abril, por questões organizativas referentes ao almoço e emissão de certificados de participação. A confirmação da inscrição se dará pelo email, com o professor Onildo: onildolopes@yahoo.com.br
Por se tratar de evento realizado de forma autônoma pedimos às companheiras e companheiros uma contribuição de 3 reais, para ajudar no custeio do evento.
Contando desde já com vossa presença, aguardamos confirmação para os devidos encaminhamentos.

Só a luta popular constrói, decide e transforma!

Movimento Poder Popular/MPP
Associação de Docentes em Universidades Federais/ADUF
Central Sindical e Popular/CSP-CONLUTAS
Associação de Mulheres Indígenas de Dourados/AMID
Centro Acadêmico de Geografia Livre/CAGEOL
Centro Acadêmico de História/CAHISD

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Libertário Março/Abril de 2011

Companheir@s
Já saiu a edição Março/Abril de 2011 de nosso jornal O Libertário,
click no link abaixo e faça download :




Distribua a versão impressa de O Libertário e contribua com o fortalecimento doAnarquismo em nossa região.

Pacote distribuição 10 exemplares - 8 reais
Pacote distribuição 20 exemplares - 14 reais

Efetue depósito em:
Banco Bradesco
Agência: 0189
Conta Corrente: 0089120-7

Depois envie cópia do comprovante de depósito, ou horário do depósito, para nosso e-mail:paraalem@portugalmail.pt
Informando também o endereço postal para envio do pacote.
VIVA A ANARQUIA!!!!

Transporte é um direito e não uma mercadoria!

(Estudantes fazem fila pra pegar "buzão" em Dourados)

  O transporte coletivo em Dourados tem se consolidado como um dos maiores flagelos impostos, a mãos de ferro, à população da cidade. A “empresa” Medianeira, citada nos relatórios da Operação Uragano da Polícia Federal como um dos grupos mafiosos que dominam os serviços essenciais da cidade mediante pagamento de propina, mesmo com vários de seus políticos tendo perdido recentemente seus cargos no furacão que levou Artuzi e sua turma, mantém tranquilamente seu controle sobre o sistema de transporte coletivo municipal, anunciando-se para breve novos projetos e aumentos de preços da tarifa, contando com o aval da nova administração da prefeitura.
  Alguns setores estão se mobilizando para articular uma luta por diminuição do preço das passagens (que hoje está em R$: 2,30), por melhor qualidade no serviço oferecido e, numa perspectiva mais ampla, por opções públicas de transporte coletivo. Vamos refletir sobre estes pontos:

Transporte é um direito básico das pessoas

  Uma opção pública, gratuita e de qualidade de transporte coletivo é um direito básico das pessoas, entrelaçando-se de forma decisiva com o acesso a todo o leque de serviços essenciais oferecidos dentro da cidade. Afinal, se as pessoas não têm como se locomover, por exemplo, de suas casas até um hospital público seu direito de acesso aos serviços de saúde ficam prejudicados, sendo que esta mesma lógica pode ser aplicada aos serviços de educação, espaços de lazer, etc. Sob esta ótica, o sistema coletivo de transporte estando sob controle privado impede, ou no mínimo dificulta em demasia, que a “cidadania seja exercida”, jargão tão apregoado nas peças publicitárias do governo e grandes empresas, mas tão pouco visto em prática no cotidiano.
  A qualidade do serviço oferecido não reflete o elevado preço das tarifas. São poucos horários, poucas linhas e ônibus sujos e velhos. Para despistar a atenção pública a empresa tem adotado a política de colocar carros mais novos em trajetos de maior visibilidade midiática, como o caso de alguns ônibus que seguem rumo à Cidade Universitária, e deixar as velharias para os bairros periféricos. Agora façamos as contas do impacto econômico que o serviço privado de transporte coletivo causa no bolso de famílias trabalhadoras. É bombástico!  E a diminuta qualidade vai na contra-mão dos aumentos de preços, que não sofrem nenhuma espécie de controle por parte dos/as usuários/as, sendo definidos sempre ao bel-prazer de empresários e políticos.
  Neste regime privado do sistema de transporte coletivo municipal outro setor que, além dos/as usuários/as, é vítima da empresa são os/as funcionários/as, que se vêem constantemente ameaçados/as pelo desemprego, como o caso dos/as cobradores/as cuja rotatividade e número de trabalhadores/as modificam-se a todo instante, acarretando uma sobrecarga de funções para os/as motoristas, que em muitos casos acumulam também as tarefas de cobrar passagem e emitir troco, aumentando o estresse diário deste/a trabalhador/a cuja ocupação faz com que seja responsável pela vida de dezenas de pessoas, os/as passageiros/as. Qualquer tentativa de organização e luta dos/as funcionários/as, no caso específico de Dourados, é rapidamente desmantelado pela demissão sumária.
  São os fatos de conjunturas como esta que tem feito surgir, em todo o Brasil, fortes mobilizações de luta por opções públicas de transporte coletivo, apontando para um amplo movimento em defesa do direito de real acesso à cidade e à liberdade de se locomover.

(Trecho de relatório da PF que trata do mensalinho pago pela Medianeira à seus aliados políticos)


A luta em Dourados hoje

  Durante as jornadas de mobilizações do Fora Artuzi e TODAS as Máfias, ficou claro para alguns setores comunitários e estudantis que a questão do transporte coletivo era uma das principais pautas que as organizações populares deveriam tirar como uma bandeira para mais além que eleições, já que além da terrível situação enfrentada por quem depende destes ônibus, a “empresa” Medianeira é, comprovadamente, uma das maiores máfias implantadas em Dourados, financiando partidos políticos, elegendo seus candidatos e garantindo, através do pagamento de mensalinhos, a manutenção de seu contrato de concessão para explorar, em todos os significados da palavra, este serviço em nossa cidade. Os políticos perderam seus mandatos, novos nomes assumiram, mas a “empresa” Medianeira está toda prosa, especulando um novo aumento na tarifa, podendo ir agora para R$: 2,50, e aprofundando seu modelo de organização do sistema de transporte coletivo municipal. Segundo informações cedidas pelo Secretário de Serviços Urbanos da prefeitura para estudantes de alguns Centros Acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes da UFGD, planeja-se a implantação do sistema de cartões com marcação de tempo para que a pessoa desça de ônibus e pegue outro dentro de alguns minutos, o fim do terminal de transbordo e outras medidas de interesse da Medianeira.
  A discussão sobre este problema no período que se estende das mobilizações Fora Artuzi até agora trouxeram, no nosso entendimento, um amadurecimento de posições defendidas por alguns setores, especialmente do Movimento Estudantil, fazendo-os ampliarem sua reivindicação, passando de passe livre estudantil para linhas públicas de transporte coletivo, incluindo aí a do trajeto pra Cidade Universitária, amadurecimento de posição que é fruto das relações travadas com organizações de outros setores combativos de Dourados.
  Na nossa opinião é chegada a hora de tomar as ruas e outros locais nesta luta. Apoiamos todas as iniciativas que tem acontecido visando preparar terreno e mobilizar setores populares para estas manifestações. Apoiamos as reivindicações de diminuição imediata dos valores da tarifa, de criação de linhas públicas de transporte coletivo, como às que fazem o trajeto pra Cidade Universitária, aldeias indígenas, hospitais públicos e bairros mais afastados do centro e de municipalização de todo o sistema de transporte coletivo, que vêm sendo defendidas por setores populares combativos em Dourados. Vemos como fundamental a participação dos/as estudantes secundaristas, o que parece estar voltando a acontecer.
  Depois das maquinações da imprensa burguesa e da criação do mito do líder forte e salvador Murilo Zauith (salvador pela burguesia e forte contra o povo), as organizações populares de nossa cidade devem, e irão, partir para a luta e disputar nas ruas o cumprimento de nossas exigências. Estamos, enquanto anarquistas, junto de nosso povo, preparados e firmes pra esta batalha!

 Uma cidade só existe pra quem pode se movimentar por ela! 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pela Demarcação das terras dos Povos Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul

escrito por Amig@s do PAEM, de Campo Grande/MS
(Manifestantes Guarani e Kaiowá protestam quando do assassinato dos professores Verá em 2009)

   Isto é um absurdo!
  A ocupação de Mato Grosso do Sul irresponsavelmente, pela política do estado de concessão de favorecimento a reprodução do capital privado e da exploração do povo, ocorreu sobre os tekoha (unidade territorial, de ocupação e uso, e por onde são transmitidos os conhecimentos tradicionais dos povos falantes da língua Guarani) dos Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul gerou, e ainda gera, várias dificuldades a estes povos que vivem confinados dentro de pequenas áreas de terra super populosas, sem ter possibilidades de sustentabilidade, devido a miserável benevolência do estado burguês no momento em que demarcou essas terras pensando na extinção dos povos indígenas, que passariam simplesmente a integrar a sociedade nacional como meros trabalhadores, aquecendo a máquina capitalista de incineração de vidas com seu projeto de desenvolvimento e enriquecimento de poucos.
  A idéia era que estes povos simplesmente esqueceriam suas raízes plantadas nessas terras. Há! Isso não aconteceu!.Até hoje esses Índios Kaiowá e Guarani permanecem resistentes em sua luta pela devolução de sua autonomia, e consequentemente das terras que lhes foram retiradas.
  Hoje os Kaiowá e Guarani são cerca de 45 mil, constituindo o maior grupo étnico do MS estado da nação brasileira que tem uma das maiores populações indígenas do Brasil. Em contrapartida tem reservada uma das menores áreas de terras para o uso desses povos, que aqui já estavam antes das frentes de expansão econômica recaírem sobre essa região. No geral os homens Kaiowá e Guarani acabam, por falta de condições de manter um sistema de plantio (isto ligado a falta de caráter de nosso estado burguês que só se interessa em defender o direito a propriedade historicamente roubada desses povos), obrigados a vender sua mão de obra para o corte de cana plantada nas terras em que seus avós viveram, ou no trato com o gado nas fazendas da região. E aqui seria bem legal refletir sobre a frase dita por um ñhanderú (Chefe curandeiro) no filme “Terra Vermelha”, onde ele diz: A onça nos ataca, mas é nossa amiga; a cobra nos morde, mas é nossa amiga; O gado não nos ataca, mas é nosso inimigo, pois esta em nossas terras.”. Já às mulheres Kaiowá e Guarani em geral fica reservado o direito de trabalhar em subempregos como empregadas domésticas nas casas ou fazendas na própria sociedade que as oprime.
  Para entendermos melhor é necessário observarmos como historicamente foi retirado o direito de uso da terra das populações Kaiowá e Guarani de MS.
  No ano de 1890 é concedido a Cia Matte Larangeiras o direito da exploração da erva mate nativa na região sul do estado de Mato Grosso, tendo sua área de concessão sucessivamente ampliada sempre com o apoio de políticos influentes como os Murtinho e Antônio Maria Coelho.
  Até 1895 a Matte Larangeiras já tinha uma área arrendada que ultrapassava os 5.000.000 hectares tornando-se um dos maiores arrendamentos de terras ditas “devolutas” do regime republicano em todo o Brasil para um grupo particular, fato muito impressionante se notarmos que os Kaiowá-Guarani tinham um território de aproximadamente 4.000.000 hectares, sendo então o tamanho de suas terras de ocupação menores que as concedidas a Cia Matte Larangeiras,
  Segundo pesquisadores do processo de ocupação do MS, o território Guarani se estendia desde o rio Apa até o rio Miranda, tendo ao leste a serra de Amambai e, a oeste, o rio Paraguai. Portanto é perceptível a diminuição do território e o processo de confinamento ao qual foram expostas tais populações. Forçando a transferência para dentro dos espaços definidos pelo estado burguês longe de suas áreas de habitação tradicional, normalmente próximo as matas e rios que auxiliavam em seu processo de autonomia social, política e econômica. Indicando o processo de progressiva passagem de um território indígena amplo, fundamental para a viabilização de sua organização política e social, para espaços exíguos, demarcados a partir de referenciais externos, prevendo-se sua progressiva transformação em pequenos produtores ou assalariados a serviço dos empreendimentos econômicos regionais.
  As concessões feitas, e a atuação da Cia Matte Larangeiras atingiram em cheio o território de uso tradicional dos Kaiowá-Guarani, que acabaram muitas vezes por se engajar na colheita de erva atraídos pelos bens que esta poderia trazer como roupas e ferramentas. Essa prática da Cia Matte Larangeiras de conceder produtos superfaturados com antecedência a seus trabalhadores, era uma forma de iniciar este trabalhador paraguaio e Kaiowá e Guarani, como um endividado e preso a um regime de “barracão”, quase impossível de libertação fundando assim um trabalho baseado na escravidão por endividamento.
(Negociantes de erva da Matte Larangeiras)

  A criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) em 1943 foi o empreendimento que causou um impacto bem maior que o da exploração de erva mate nativa pela Cia Matte Larangeiras sobre a população Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul, pois esta foi decretada sobre vários tekoha. E com isso mais uma vez observamos os interesses da política nacional patrolando os direitos dos Guarani e Kaiowá.

  A criação da CAND, que pode ser considerado como um marco incentivador para a migração pela busca de terras na região sul de Mato Grosso, gerará uma grande perda aos Kaiowá e Guarani. Sendo que a efetivação deste processo de retirada das populações Kaiowá e Guarani das localidades onde estavam assentadas ocorre paralelamente ao avanço das frentes de ocupação agropecuária.

  Fato muito curioso é a existência de sistemática documentação produzida pelo SPI que afirmava a presença de várias áreas de ocupação dos Kaiowá e Guarani nessa região do Sul do atual estado de Mato Grosso do Sul, e que mesmo assim não surtiu nenhum efeito sobre as iniciativas do Estado nacional no momento de pensar a sua política de colonização para o centro-oeste.

  A prática de aldear os povos indígenas foi promovida pelo Estado desde o período colonial, até a promulgação da Constituição Federal de 1988, que a partir deste novo texto constitucional do estado que privilegia o direitos dos que tem dinheiro.
  Nesta nova Constituição estava prevista a demarcação de terras indígenas respeitando as especificidades dos usos, costumes e tradições de cada povo. O “aldeamento indígena” estava intrinsecamente relacionado às ações e interesses das frentes de expansão agropecuárias, porém, para isso era necessário delimitar o espaço reservado aos indígenas – como o caso da demarcação das oito reservas iniciais – e convencê-los e em alguns casos até mesmo forçá-los a neles se recolherem.
  Essa medida era vista como uma ação humanitária (como se fosse muito humanitário retirar o sustento de um povo inteiro) por parte do estado, porque nos aldeamentos os índios teriam suas vidas, mas não seu modo de vida, preservadas e receberiam assistência e orientação para se tornarem cristãos e “civilizados” e trabalhadores explorados.
  A terra para um Guarani está relacionada à sobrevivência física, social, política e cultural e a freqüente sistemática de atraso das demarcações desrespeita profundamente os direitos desse povo, configurando assim uma grande violação do direito histórico, e o mais básico de todos, a liberdade e a autonomia de decisões sobre que destino tomar.
  Essa Constituição de 1988, ainda em vigor por imposição do estado, previa que a demarcação de todas as terras indígenas aconteceria em 5 anos. O que não aconteceu, e ainda se arrasta como uma grande dívida do estado brasileiro com os povos nativos.
  Após o processo de mecanização da agricultura na década de 1970, e o fim dos trabalhos de derrubada das matas e abertura de estradas (onde houve participação efetiva dos Kaiowá e Guarani) torna-se inconveniente para os fazendeiros ter grupos e aldeias indígenas nos chamados “fundos de fazenda”, que mais na verdade eram a própria terra ocupada por esses grupos a centenas de anos. Ocorre então uma mobilização por parte dos proprietários de terras, em alguns casos com apoio do SPIServiço de Proteção Indígena (hoje FUNAI), para expulsar de vez esses grupos, pois acreditavam que lugar de índio era dentro das áreas já reservadas pelo estado, que como já sabemos era muito inferior ao território tradicional e as demandas dessas populações.
  A imposição de um progressivo assalariamento, primeiro na colheita da erva-mate, depois nas derrubadas e no trabalho de implantação das fazendas de gado, e por último, nas usinas de álcool é um fator que contribui para o agravamento da situação de pobreza que essas populações enfrentam hoje.
(Manifestantes Guarani e Kaiowá protestam quando do assassinato do Cacique Marcos Verón em Juti)

domingo, 13 de março de 2011

Jornal sergipano publica adaptação de artigo do PAEM

  O periódico O Capital - Jornal de Resistência ao Ordinário, da cidade de Aracaju-SE, publicou, em sua edição nº 199, uma adaptação do artigo Ecologismo-Burguês: A Nova Moda, produzido pelo PAEM e originalmente publicado na edição janeiro/fevereiro de 2010 de O Libertário. Clique na imagem abaixo para ampliá-la e conferir a adaptação. Para ler o artigo original visite o link: 


terça-feira, 1 de março de 2011

Sobre a luta dos Anarquistas

  
  Escrito por Piotr Kropotkin, publicado originalmente em Les Temps Nouveaux em 1913, extraído da obra O Princípio Anarquista e outros ensaios, lançada pela Editora Hedra em 2007. O título é nosso

  Este lado positivo e reconstrutor da anarquia não cessou de desenvolver-se. E, hoje, a anarquia tem de carregar sobre seus ombros um fardo bem maior do que aquele de seus começos.
  Já não é uma simples luta contra camaradas de oficina que se arrogaram uma autoridade qualquer num agrupamento operário. Não é mais uma simples luta contra chefes de outrora, nem mesmo uma simples luta contra um patrão, um juiz ou um policial.
  É tudo isso, sem dúvida, pois sem a luta de todos os dias, para que chamar-se revolucionário? A idéia e a ação são inseparáveis, se a idéia tem ascendência sobre o indivíduo; e, sem ação, a própria idéia atrofia-se.
  É ainda bem mais do que isso. É a luta entre dois grandes princípios que, em todos os tempos, encontraram-se em oposição na sociedade: o princípio de liberdade e aquele de coerção. Dois princípios que, neste momento, inclusive, vão de novo engajar uma luta suprema, para chegar novamente a um novo triunfo do princípio libertário.
  Observai à vossa volta. O que restou de todos os partidos que outrora se anunciaram com partidos eminentemente revolucionários? – Só dois partidos estão em oposição: o partido da coerção e o partido da liberdade; os anarquistas, e, contra eles, todos os outros partidos, qualquer que seja sua etiqueta.
  É que, contra todos esses partidos, os anarquistas são os únicos a defender por inteiro o princípio de liberdade. Todos os outros gabam-se de tornar a humanidade feliz mudando ou suavizando a forma do açoite. Se eles gritam “abaixo a corda de cânhamo da forca”, é para substituí-la pelo cordão de seda, aplicado no dorso. Sem açoite, sem coerção, de um modo ou de outro, sem o açoite do salário ou da fome, sem aquele do juiz ou do policial, sem aquele da punição sob uma forma ou outra, eles não podem conceber a sociedade. Só nós ousamos afirmar que punição, polícia, juiz, salário e fome nunca foram, e jamais serão, um elemento de progresso; e se há progresso sob um regime que reconhece esses instrumentos de coerção, esse progresso é conquistado contra esses instrumentos, e não por eles.
  Eis a luta em que nos engajamos. E qual jovem coração honesto não baterá com a idéia de que ele também pode vir tomar parte nessa luta, e reivindicar contra todas as minorias de opressores a mais bela parte do homem (e da mulher), aquela que fez todos os progressos que nos cercam e que, malgrado isso, por isso mesmo, foi sempre pisoteada!
  Mas não é tudo!
  Desde que a divisão entre o partido da liberdade e o partido da coerção tornou-se cada vez mais pronunciada, este último agarra-se cada vez mais nas formas moribundas do passado.
  Sabe que tem diante de si um princípio poderoso, capaz de dar uma força irresistível à revolução, se um dia for bem compreendido pelas massas. E ele trabalha para apoderar-se de cada uma das correntes que formam juntas a grande corrente revolucionária.  Põe a mão sobre o pensamento comunalista que se anuncia na França e na Inglaterra. Busca apoderar-se da revolta operária contra o patronato que se produz no mundo inteiro.
  E, em vez de encontrar auxiliares nos socialistas menos avançados que nós, encontramos neles, nessas duas direções, um adversário astuto, apoiando-se sobre toda a força dos preconceitos adquiridos, que faz desviar o socialismo para vias oblíquas e que acabará por apagar até o sentido socialista do movimento operário, se os trabalhadores não perceberem a tempo e abandonarem seus atuais formadores de opinião.
  O anarquista vê-se, assim, forçado a trabalhar sem descanso e sem perda te tempo em todas essas direções.
  Deve fazer sobressair a parte grande, filosófica, do princípio da anarquia.  Deve aplicá-la à ciência, pois, por isso, ele ajudará a remodelar as idéias: ele combaterá as mentiras da história, da economia social, da filosofia, e ajudará aqueles que já o fazem, amiúde inconscientemente, por amor à verdade científica, a impor a marca anarquista ao pensamento do século.
  Deve apoiar a agitação de todos os dias contra opressores e preconceitos, manter o espírito de revolta em toda a parte onde o homem (e a mulher) sente-se oprimido e possui a coragem de revoltar-se.
  Deve fazer fracassar as espertas maquinações de todos os partidos, outrora aliados, mas hoje hostis, que trabalham para desviar para vias autoritárias, os movimentos nascidos como revolta contra a opressão do capital e do Estado.
  E, enfim, em todas essas direções, ele deve encontrar, adivinhar pela própria prática da vida, as novas formas que os grupamentos, sejam de ofício, sejam territoriais e locais, poderão assumir numa sociedade livre, liberta da autoridade dos governos e dos esfomeadores.
  A grandeza da tarefa a ser realizada não é a melhor inspiração para o homem (e para a mulher) que sente a força de lutar? Não é, também, o melhor meio para apreciar cada fato separado que se produz na corrente da grande luta que devemos sustentar?